Festa de Iemanjá no Balneário Cassino

Resistência, Fé e Tradição Afro-Brasileira no Rio Grande do Sul

A Festa de Iemanjá do Balneário Cassino (RS) é uma manifestação cultural extremamente importante para a região. Mesmo em meio a muita intolerância e racismo religioso, a festividade é fundamental, pois reúne, entre os dias 27 de janeiro à 02 de fevereiro, uma concentração e acampamento de batuqueiros, quimbandeiros e umbandistas de várias regiões do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e também do Uruguai. 

A presença de batuqueiros na Festa de Iemanjá evidencia a profunda conexão entre essa celebração e o Batuque, uma das principais tradições religiosas de matriz africana no Rio Grande do Sul. Mais do que uma festividade, a ocasião reafirma a resistência e a riqueza cultural das religiões afro-brasileiras, que, apesar da intolerância e da criminalização histórica, seguem vivas e fortalecidas. 

A religião Batuque

O Batuque do Rio Grande do Sul, ou somente Batuque, é uma religião que possui em sua ritualística, o culto somente aos Orixás: Bará, Ogum, Oyá-Iansã, Xangô, Ibeji, Odé-Otim, Obá, Ossain, Xapanã, Oxum, Iemanjá, Oxalá. De matriz africana, o Batuque é uma religião Afro-Brasileira e Gaúcha, que se estende também pelo Uruguai e Argentina. Assim como o Candomblé, a Umbanda, o Catimbó, o Tambor-de-Mina e outros, se constituiu a partir de homens e mulheres de várias etnias, culturas, reinos e territórios do continente africano. Durante o Brasil Colônia e Império, essas mulheres e homens foram trazidos para serem escravizados, e através de sua resistência mesmo em um contexto de opressão e violência, influenciaram a formação social, política, econômica e cultural do Brasil. 

As religiões de matriz africana, mesmo sendo discriminadas e criminalizadas aqui no Brasil, mantiveram vivas as experiências, culturas e cosmovisões africanas antigas, possibilitando que hoje venha a ser resgatado inúmeras perspectivas mitológicas, filosóficas e religiosas ancestrais. 

A festa de Iemanjá

A festa de Iemanjá é uma forma de resistência das religiões de matriz africana e é composta por uma acampamento que possui inúmeras terreiras, rituais e atendimentos espirituais para a população; a Caminhada de Iemanjá que sai do Pórtico do Município de Rio Grande até o Balneário Cassino; e a Procissão das Casas , Ilês e Terreiros na Avenida Rio Grande , no Balneário Cassino, que começa no início da Avenida , passa pela Estátua de Iemanjá e termina com entregas e outras cerimônias na beira da praia. 

Festa de Iemanjá

Nesta última festa, comemorou-se o jubileu de ouro, o 50º aniversário da Festa de Iemanjá no Balneário Cassino, o que fez com que as festividades se tornassem um pouco mais importantes neste ano de 2025. 

Proteger para cultuar o Sagrado

Além das inúmeras manifestações, rezas, cantos e ações, levamos a mensagem “Proteger o Sagrado defender a terra” inspirados pelo GreenFaith e a missão de relacionar a espiritualidade com a justiça climática. A participação da organização na Festa de Iemanjá reforça a necessidade de reconhecer e valorizar o papel das religiões de matriz africana na preservação ambiental, na proteção das águas e na resistência contra a degradação dos territórios sagrados. 

Samuel Ferreira – Parceiro do GreenFaith

Essa articulação serve como ponte para a criação de um novo círculo no Brasil, focado nos principais desafios climáticos enfrentados pelas comunidades religiosas no Rio Grande do Sul, promovendo ações de conscientização, formação e mobilização. A conexão entre fé e meio ambiente, evidenciada na festa, ressalta que a luta contra as mudanças climáticas também passa pelo respeito às tradições ancestrais e pelo fortalecimento das práticas espirituais que há séculos cuidam da terra, dos rios e dos oceanos.

 

Samuel Ferreira – Doutor em Educação Ambiental, batuqueiro integrante do Ilê de Xangô e parceiro do GreenFaith.